quarta-feira, 4 de junho de 2025

EDUARDO GAGEIRO


 

                                                                           1935  -  2025

quinta-feira, 29 de maio de 2025

PICTURES OF YOU (lyrics)

 I've been looking so long at these pictures of you

That I almost believe that they're realI've been living so long with my pictures of youThat I almost believe that the pictures are all I can feel
Remembering you standing quiet in the rainAs I ran to your heart to be nearAnd we kissed as the sky fell in, holding you closeHow I always held close in your fearRemembering you running soft through the nightYou were bigger and brighter and wider than snowYou screamed at the make-believe, screamed at the skyAnd you finally found all your courage to let it all go
Remembering you, fallen into my armsCrying for the death of your heartYou were stone white, so delicateLost in the coldYou were always so lost in the darkRemembering you, how you used to beSlow drowned, you were angelsSo much more than everythingHold for the last time then slip away quietlyOpen my eyes, but I never see anything
If only I'd thought of the right wordsI could have held on to your heartIf only I'd thought of the right wordsI wouldn't be breaking apart all my pictures of you
Looking so long at these pictures of youBut I never hold on to your heartLooking so long for the words to be trueBut always just breaking apartMy pictures of you
There was nothing in the world that I ever wanted moreThan to feel you deep in my heartThere was nothing in the world that I ever wanted moreThan to never feel the breaking apartMy pictures of you

The Cure
Traduzir para português

terça-feira, 27 de maio de 2025

O EUTANASIADOR


 

"Só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à pergunta fundamental da filosofia. O resto, se o mundo tem três dimensões, se o espírito tem nove ou doze categorias, vem depois.” 

  Albert Camus 

 

 

 

 

Texto: Paula Guimarães 

 

Encenação: Diogo Infante 

 

Interpretação: Sérgio Praia 

 

Exibição até 29 de Junho no Teatro da Trindade 

 

 

A morte é a questão mais absoluta de todas as civilizações. O suicídio é o tema mais absoluto de toda a Filosofia. No modo como lidamos e reflectimos um e outro conseguimos encontrar a medida e o relacionamento com os nossos padrões de cultura, a nossa organização mental, o entendimento de nós próprios. 

Um homem apresenta-se-nos no palco, separado do público através de um gradeamento prisional. Uma voz off procede ao interrogatório. O crime de que é acusado? O homicídio de várias pessoas por vontade das mesmas. A partir daqui partimos numa viagem alucinante onde são descritas histórias de várias pessoas que, tendo escolhido a morte não tiveram a força ou a coragem de o fazer sozinhas. Por isso recorreram aos serviços deste homem, o Eutanasiador, que as ajudou a cumprir a sua vontade. Escolhendo o processo, assinando um contrato de prestação de serviços, assumindo a sua escolha para memória futura. 

E ao longo deste quase monólogo vamos assistir ao desenrolar de um enorme novelo de questões que são mais familiares no nosso quotidiano do que à primeira vista poderiam parecer. Logo à cabeça o direito à escolha. O direito de um indivíduo decidir soberanamente acerca do términus da sua existência, a figura clássica do suicídio. A dignidade de morrer minimizando o sofrimento e a degradação inevitáveis do corpo. A fronteira entre o conceito de crime e o de culpa. 

Apresentando-se como um ser amoral, hedonista, insensível e sedutor, o Eutanasiador acaba por se revelar ao mesmo tempo um assassino material, um manipulador e um manipulado. Fascinado pela morte vê ao mesmo tempo nessa actividade um “nicho de mercado”, uma forma de ganhar dinheiro apesar do contratempo da publicidade lhe dificultar o trabalho. Se por um lado não pode pôr um anúncio a oferecer os seus serviços também não pode contar com a clientela para os recomendar a outros potenciais clientes... O humor negro pontua a carga dramática como forma de aligeirar o ambiente. Uma atmosfera onde ninguém se consegue sentir confortável e dentro da qual se vai construindo um convite a cada um para fazer parte da estrutura dramática. Tema tabu, a eutanásia, tal como a morte, é ainda hoje um tema incómodo, um impecilho que se varre para debaixo do tapete no discurso da sociedade. Todos sabemos que existe, todos sabemos que a nossa existência acabará um dia, mas isso não é assunto para conversar. E dentro desse desconforto escondemos desejos que ainda menos revelamos. Há um momento em que o Eutanasiador se vira para os interrogadores e lhes pergunta: 

 - Se calhar até têm alguma inveja do meu trabalho. Quantas vezes não desejaram matar este ou aquele e, simplesmente, não tiveram coragem de o fazer...ou admitir? 

Nesta altura não é só o interrogador que é interpelado, mas cada um de nós.  

Por fim o Eutanasiador deixa-se capturar. Não por falha própria mas para dessa forma poder dar testemunho da sua actividade, do seu profissionalismo, para que o mundo conheça o seu nome e a eficácia do seu desempenho. Por isso vai deixando pistas, desleixa-se. Aqui não sabemos se o motivo para pôr um fim na sua carreira se deverá apenas a uma necessidade de divulgação do seu trabalho, a uma exigência de gratificação do ego, ou se também o seu fim se aproxima (há um espasmo durante o interrogatório indicador de algum problema de saúde). Não sabemos. O texto não nos dá direcções, não debate conceitos nem estados de consciência. Aquilo que faz, e de uma forma brilhante é confrontar-nos, interrogar-nos, pôr-nos a pensar. E é nesta inquietude estimulante que reside grande parte do êxito desta obra. 

Autora premiada, jurista de formação e formadora na área do envelhecimento e do direito das pessoas idosas e com demência, Paula Guimarães alcança aqui mais um patamar de qualidade e enriquecimento do património cultural no seu já longo trajecto criativo. A encenação de Diogo Infante é perfeita, envolvente e ao mesmo tempo estimulante do princípio até ao fim. Por fim a interpretação do actor Sérgio Praia revela sobriedade, realismo e um posicionamento que rapidamente transforma o seu texto num diálogo com uma plateia de caras conhecidas, amigos de longa data habituados a longas conversas. 

Tudo isto somado, estamos perante um grande momento de teatro, uma proposta desafiante fora da caixa, em suma, num belo momento de criação cultural. 

 

Artur Guilherme Carvalho 

 



 


segunda-feira, 26 de maio de 2025

HEMINGWAY DRUNK BEFORE NOON


 


“Hemingway, drunk before noon” by Charles Bukowski

she knew Hemingway in Cuba
and she took this photo of him one day
drunk before noon–
he was stretched on the floor
face puffed with drink
gut hanging out over his
belt, hardly looking
macho
at all.he heard the click of the camera,
lifted his head a bit from the
floor and
said, “Sister, don’t you ever publish that
photo.”I have the photo framed now
on the south wall
facing the door.
the lady gifted me this
bit.

ENQUANTO CONSEGUIRMOS RESPIRAR




 

Vigésimo sexto dia do quinto mês de dois mil e vinte cinco.
Ainda imersa nas emoções do mês que foi tanto de tão bom e de tão mau, a elevar o bom e a raspar o mau da pele, com lixa, raspadeira, faca e buril. Vale-me um mergulho no líquido amniótico que circunda esta ilha de Maria, o amor de filhos, amigos, animais e plantas, que tudo se recompõe devagar, se tece como a uma manta de materiais preciosos e se reconstrói como os dias de sol que procedem as noites mais escuras.
Respira Elsa, como o menino da Loja Mágica e vê que o essencial está igual e o inevitável perdido para sempre. Hoje já não sou ontem nem mês passado, porém sou aquilo que me faz melhor, mais serena, mais triste, mais contente, mais forte e verdadeira, confiante no passo de cada pé, no inspirar de cada alvéolo, no expirar das emoções contaminadas pelo dejectos do planeta. Não basta orar para pedir ou emendar, há que agir à escala do nosso tamanho, revoltar com lutas que são como o bater de asas duma borboleta, influenciar pequenos comportamentos até serem grandiosos. Não basta escrever coisas fofas, fotografar paisagens idílicas, copiar e colar textos que traduzem o nosso estado de alma, nem fingir para não parecer a tristeza do nosso sentir. Desde quando é que temos que ignorar quando alguém nos trata mal? Em que altura é que isso começou? Achas que mereces ser maltratada? Porquê? Quem te disse, e em que altura da vida, que merecias ser lixo em vez de terra fértil? Eu sei que é difícil. Eu cresci a ouvir a pessoa mais importante da minha existência a dizer que ninguém tem o direito de me roubar o sorriso. Quando comecei a pensar comecei a entender que aquilo que queremos para quem amamos tem que ser igual ao que queremos para nós. O exemplo vem de dentro e depois segue fluido.
E se derem porrada na tua vizinha, matarem a filha dela por estar com um grande decote, degolarem o neto porque era da família delas, decapitarem o marido filho e genro, por estar a plantar batatas no quintal que achavam seu, vais ignorar ou agir? Telefonas para o 112, não é? Ou vais aos saldos antes que acabem?
-Não é comigo, não vou intervir.
-Não me vou queixar, porque eles até me tratam bem quando nos cruzamos na missa.
-São vizinhos, não é cá em casa!
- A comida deles cheira mal.
- São demasiado escuros para sentir.
- O rapaz até andava de batom e a prima parece um rapazinho.
Desde quando é que ficamos assim? Quem é que nos fez tanto mal que agora nos faz ignorar o pior que está a acontecer?
Vivemos interligados, seja neste pequeno torrão de terra, seja no maior. Baixar a cabeça, virar a cabeça, não é opção. Beber uns copos e consumir todas as drogas para esquecer, também não. Levar porrada com punhos ou palavras, também não. Votar nos gajos errados, não é de certeza, mas o tempo encarrega-se sempre de repor os enganos.
Vivemos tempos em que todos os idiotas têm uma arma, esta onde me lêem ou apagam. Vivemos tempos em que a massa cinzenta encolhe a cada Gosto.
Vivemos a ignorar o óbvio a exaltar abstrações criadas por inteligências artificiais que gastam trinta litros de água por cada coisa que aprendem.
Respira, Elsa, como o menino da Loja Mágica, e contempla a árvore que já não está, o verde que se fez amarelo de tanto o envenenaram. Respira, enquanto tiveres ar para respirar.
Hoje, sou mais, do que ontem ou no ano passado. Sou, simplesmente, eu. Com Amor.

Elsa Bettencourt

sexta-feira, 23 de maio de 2025

SEBASTIÃO SALGADO


 



                                                                           1944 - 2025

quinta-feira, 22 de maio de 2025

LOVE

 LOVE bade me welcome; yet my soul drew back,

            Guilty of dust and sin.
But quick-eyed Love, observing me grow slack
    From my first entrance in,
Drew nearer to me, sweetly questioning
            If I lack’d anything.

‘A guest,’ I answer’d, ‘worthy to be here:’
            Love said, ‘You shall be he.’
‘I, the unkind, ungrateful? Ah, my dear,
            I cannot look on Thee.’
Love took my hand and smiling did reply,
            ‘Who made the eyes but I?’

‘Truth, Lord; but I have marr’d them: let my shame
            Go where it doth deserve.’
‘And know you not,’ says Love, ‘Who bore the blame?’
            ‘My dear, then I will serve.’
‘You must sit down,’ says Love, ‘and taste my meat.’
            So I did sit and eat.


George Herbert    (1593 - 1632)

segunda-feira, 12 de maio de 2025

LEMBRA-TE

 Décimo segundo dia do quinto mês de dois mil e vinte cinco.

Não te afastes do propósito da luz, repousa na sombra dela, refresca-te nos beijos que foram, serão e por isso são.
Deixa que te afague os dias com a ponta dos meus dedos e que mergulhe a cara na densidade da tua pele. És primavera no outono e verão em pleno inverno, o sol quente do meu Norte, a brisa fresca do meu Sul. Todos os pontos cardeais rodam nesta bússola de sentir com rumo a nós. Os rios correm até à foz da nossa existência com a urgência da cascata, com a força das maiores correntes.
Se te afastares, recorda-me na sequência dos ocasos, a cada aurora, como no abrir de asas das gaivotas que se perfilam até mim, até ao pouso, até ao abraço de quem fomos e por isso somos.